lema de vida

Hoje, numa das minhas viagens diárias para dar aulas, cruzei-me com um casal já de idade que andava a passear. Não consegui deixar de esboçar um sorriso quando vi que passeavam de mãos dadas... fez-me recordar um casal que via todos os dias, durante o Verão, a descer a rua do Centro Comercial D. Dinis (Leiria) e que acabava sempre a caminhada no Mercado de Santana. Todos os dias, sensivelmente à mesma hora, desciam a rua envoltos num abraço de quem já nasceu assim, enlaçado, e não se quer separar jamais. Chegavam ao café e pediam duas imperiais, uma torrada e um bolo (se a memória não me falha). Por ali ficavam a lanchar e dali saíam, novamente entrelaçados, como se só soubessem, ou só conseguissem andar assim. Estavam sempre muito bem vestidos, ele de fato e gravata e ela de vestido adornado com jóias e maquilhada, querendo demonstrar por fora a juventude que sentia por dentro e que transparecia naquele amor. Ainda me lembro da tarde em que tive a sorte de estar no café na mesma altura que eles. Senti vontade de me levantar e de lhes pedir que, por favor, me contassem a sua história, mas não tive coragem... Ao vê-los conversar e olhar um para o outro, dava para perceber que, para eles, não estava mais ninguém naquele café. Limitei-me a observá-los, sabendo que é algo que não se deve fazer, mas não conseguindo evitar, pois nunca tinha estado na presença de um amor tão puro. Foi há 3 anos, desde então nunca mais os vi. Lembro-me deles muitas vezes e receio que já não os volte a ver. Já na altura deviam ter cerca de 80 anos, não sei se ainda estarão entre nós. Apesar de esse pensamento me entristecer, sossego quando recordo aqueles olhares e percebo que eles encontraram o que muita gente procura e não encontra... Quem os via percebia que a felicidade morava ali, naqueles corações cheios de amor! Quem tem uma vida assim não deve temer a morte, imagino, porque a vida não devia ficar melhor do que já estava a ser, ali naquela mesa de café...